A assistência social tem o papel de dar suporte às pessoas vulneráveis, por meio da orientação, acolhimento e proteção, visando a garantia de direitos da população e o acesso às políticas sociais. É por meio da escuta e orientação, tanto com os acolhidos, quanto com os familiares e funcionários da instituição que a assistência social exerce seu trabalho fundamental.
Tendo como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o assistente social atua em prol do retorno da criança à sua família. Para que ocorra essa reinserção, o profissional oferece atendimentos individuais e em grupo constantes, além de visitas domiciliares com olhar humano para as famílias, orientando esses familiares a procurarem a rede de serviço – Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Agora que você sabe o papel da assistência social, que tal entender como funciona, particularmente, a atuação em casas de acolhimento? Aqui, os esforços se voltam a promover o acolhimento e proteção integral de pessoas com vínculos familiares rompidos ou fragilizados. Isso significa que apoiamos crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco pessoal e social.
Muitas vezes, essas fragilidades ocorrem devido ao abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas por parte dos responsáveis, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras violações de direitos. Nas casas-lares, o afeto é um recurso valioso para promover a adaptação e o desenvolvimento dos acolhidos.
No serviço de acolhimento institucional temos nossos próprios desafios ao lidar com crianças e jovens que vivenciam o afastamento familiar (seja temporário ou definitivo) . Esse é um momento extremamente delicado na vida de qualquer pessoa, especialmente quando nos referimos à sua fase de formação. Sabemos que muito sofrimento pode derivar da pausa na história com a família, mas existem possibilidades de ressignificar esse período, como oferecer aos acolhidos experiências de pertencimento, alegria, segurança e conexão por meio do estabelecimento de vínculos com voluntários e a equipe de acolhimento, e é isso que nos move.
Como o afeto cria histórias felizes na assistência social
A negligência familiar pode causar traumas psicológicos e danos graves no desenvolvimento neurológico das crianças. É o que aponta o estudo realizado pela Universidade de Harvard, “The Science of Neglect: The Persistent Absence of Responsive Care Disrupts the Developing Brain”, ou “A Ciência da Negligência: A Ausência Persistente de Cuidado Responsivo Perturba o Cérebro em Desenvolvimento”.
A pesquisa esclarece que, após o nascimento, para o bem-estar da criança é necessário receptividade e construção de relacionamentos. Somente assim o cérebro pode criar circuitos resistentes, facilitando o desenvolvimento de capacidades emergentes e fortalecendo o cerne da saúde física e mental. Fica claro, pela leitura da pesquisa, que é por meio de interações com adultos responsáveis que as crianças aprendem tudo sobre a vida, pois é assim que o cérebro em desenvolvimento é moldado. Quando existe negligência no cuidado com a criança, o corpo dela produz estresse excessivo e isso poderá afetá-la pela vida toda.
Isso porque é ao longo da primeira infância, dos 0 aos 6 anos de idade, que ocorre a maioria das conexões sinápticas – a base da aprendizagem e memória – que a pessoa terá ao longo de sua vida. As experiências do início da vida têm um efeito importante na produção e manutenção destas sinapses.
Nosso papel é oferecer às crianças e adolescentes a troca por meio da educação ativa e do afeto. Elas passam por experiências muito intensas, o que pode fazer com que tenham comportamentos de defesa e desconfiança. Atitudes como essas devem ser trabalhadas pela assistência social com todo o carinho e paciência. Acreditamos que dois itens são fundamentais para cumprir essa missão: a psicologia positiva, que atua enfatizando e reforçando as qualidades da criança de forma natural, para que se possa desenvolvê-las em seu processo de aprendizado, e a pedagogia afetiva, que faz com que o aprendizado seja mais agradável.
A pedagogia afetiva como princípio
Baseada em princípios como a solidariedade, a sensibilidade, criatividade e nos direitos e deveres, a pedagogia afetiva busca diminuir o distanciamento na comunidade escolar.
Alguns benefícios da pedagogia afetiva, é que ela:
– torna o aprendizado mais agradável
– fortalece as relações sociais da criança
– desenvolve a autoconfiança e maturidade.
No caso da assistência social, mais especificamente das casas-lares, o papel é de aproximar o aprendizado dos gostos e aptidões de cada criança acolhida, levando em conta a sua personalidade, de modo a gerar consciência, valor e sensibilidade na relação desta pessoa com o mundo.
Aspectos emocionais e sentimentais são a base do estímulo pelo conhecimento e formação de senso crítico.
A pedagogia afetiva também é uma aliada na construção da cidadania. Afinal, uma pessoa mais consciente e bem preparada para lidar com os grupos em que estiver inserida, terá o poder de evitar situações desgastantes, solucionar conflitos com facilidade e conviver em sociedade com leveza e responsabilidade.
A psicologia positiva, o ensino e a felicidade
Ao recebermos nas casas-lares a criança ou o adolescente, lidamos com diversos tipos de situações no processo de adaptação. A psicologia positiva irá ajudar a gerar emoções positivas no acolhido, ao ter como guia a busca pelo bem-estar e a felicidade, auxiliando no processo de trabalhar e ressignificar sua história. Para que isso seja possível, indicamos que a equipe saiba reconhecer o jovem no seu processo de aprendizado. Aprender algo novo é um feito a ser comemorado e enfatizado. Isso não significa que erros não podem ser sinalizados, mas que é preciso entender que eles são necessários para aprender.
Em vez de apenas focarmos nos problemas que devem ser resolvidos, devemos atuar fortalecendo atributos que a criança apresenta, como forças e facilidades, fazendo com que ela entenda suas inclinações e seu potencial. A psicologia positiva melhora o equilíbrio entre a dualidade do “positivo” e o “negativo”, sendo capaz de oferecer uma visão mais completa do ser humano. Entender pontos fortes e fracos das personalidades também nos ajuda a criar respaldo para lidar melhor com situações estressantes.
É importante ressaltar que nessa forma de ensino não há espaço algum para castigos, ameaças e o uso de violência, seja verbal ou física. A equipe de cuidadores, sendo acolhedora e responsiva, fornece segurança emocional e conforto aos acolhidos. A construção de uma base sólida faz com que a criança sinta confiança em explorar o mundo a partir dos seus interesses e se sinta segura, pois ela criou vínculos fundamentais que levará pela vida.
Nesse sentido, é também necessário valorizar a individualidade de cada acolhido. Aniversários, por exemplo, não devem ser aglutinados para que sejam comemorados uma vez ao mês com todos os aniversariantes do período. A construção da autoestima da criança está muito atrelada a quem ela é como indivíduo, por isso é importante elevá-la por meio do afeto.
Contribua com o acolhimento de muitas crianças expressando seu afeto online. Doe carinho, amor e esperança. Saiba mais aqui.