Pense em 92 crianças. É difícil colocar todo esse número de uma vez só em nossa imaginação, né? Mas esse é o total de meninos e meninas que já foram acolhidos no Lar Casa Bela. Não conseguir imaginar todos juntos também nos lembra que cada uma dessas crianças tem a sua própria história e o objetivo do acolhimento infantil é fazer com que consigam construir novos rumos ao lado de suas famílias.
“O nosso propósito é trabalhar com as famílias biológicas para que elas se organizem novamente para ter a guarda dos seus filhos de volta”.
(Isabel Simon, fundadora do Lar Casa Bela)
Desde que somos crianças recebemos muitos estímulos para criarmos nossas próprias histórias, imaginar nossas vidas, o que queremos e aos poucos realizar cada um dos nossos sonhos. E toda criança e adolescente que chega ao Lar já vem com toda a sua história de vida, suas experiências, objetivos e sonhos particulares. Há algumas que desejam objetos como uma boneca, ou então aquelas que mudam todos seus anseios e preferem voltar a receber o amor de sua família.
Muitas vezes os sonhos precisam ser replanejados. Pois estar junto de quem amam é sempre o objetivo principal e comum. Ajudar a construir a história de vida dessas crianças e fazer com que sejam reinseridas em suas famílias é o trabalho do Lar Casa Bela.
O trabalho de acolhimento institucional
Acolher define-se como o trabalho de abrigar, amparar, oferecer refúgio e proteção. Quando crianças e adolescentes de 0 a 18 anos passam a ter algum dos seus direitos ameaçados ou violados dentro da própria casa, é preciso que um terceiro entre em ação. Neste caso, o poder judiciário ou o Conselho Tutelar determina e aciona o serviço de acolhimento. Fazendo jus ao significado da palavra, o Lar Casa Bela funciona como um refúgio temporário para essas crianças, onde ganham a chance de ser cuidados e sonhar mais uma vez.
Para que os acolhidos possam voltar, após algum tempo, a viver junto dos seus responsáveis com todos os direitos e proteção necessária, é preciso um trabalho cuidadoso desde o momento que chegam ao lar, até quando saem. “Quando eles chegam a gente faz um atendimento de acolhimento. A gente conta a história verdadeira para que entendam o motivo de estarem aqui”, enfatiza a supervisora técnica do Lar Casa Bela, Caroline Delanhesi.
Sabe quando nós sozinhos não conseguimos tornar nosso sonho realidade e por vezes precisamos do empurrão de alguém para que o caminho possa se abrir? No acolhimento, as crianças também necessitam de pessoas para auxiliar na realização do sonho de voltarem para sua família. É aqui que entra toda uma equipe técnica, que faz os sonhos acontecerem.
A Larissa Lourenço é uma dessas pessoas, como assistente social do Lar Casa Bela ela cuida da parte técnica do serviço de acolhimento .
“Trabalhar no Lar Casa Bela é viver todas as histórias, muitas de sucesso: 92 crianças e adolescentes passaram por aqui!”
Crianças são movidas pelo afeto, sair do seu lar e chegar em um ambiente totalmente novo, é um processo de adaptação que só quando feito com muito técnica e amor torna-se mais acolhedor. Lembre-se quando você ia para a casa de um amigo e no outro dia ao retornar para o seu lar era como se tivesse ficado um mês fora. Os acolhidos também sentem isso e parte da nossa atuação é para que vejam o Lar justamente como um lugar de segurança e sentimentos bons.
Levar a oportunidade de dias melhores precisa de muita dedicação. Para Larissa o trabalho de assistência social e acolhimento no Lar Casa Bela é difícil pelas altas demandas com a busca ativa de familiares, trabalho com a rede de apoio e responsáveis, reuniões, audiências, tentativas frustradas, visitas domiciliares e relatórios. Mas, apesar disso, tem algo que faz todo esforço ser recompensado: “quando conseguimos que uma criança retorne para sua família natural ou extensa, pensamos: valeu a pena!”.
Qual é a rotina do Lar?
Toda casa lar tenta aproximar-se ao máximo de um lar verdadeiro, mesmo sendo uma experiência temporária, tentamos criar memórias duradouras. No Lar Casa Bela as crianças possuem uma rotina normal. Acordam, fazem suas refeições e higiene, vão à escola, realizam atividades no contra turno como aulas de inglês, esporte e terapia, cuidam da saúde e possuem uma boa noite de sono.
Aprendemos com a troca e no Lar, cada criança cresce ao lado uma da outra. “A gente fala sobre a importância do estudo, profissão, vínculo dos irmãos. Então a gente trabalha muito com valores”, relembra Isabel. Cada criança que chega aqui tem uma história e ela não pode ser esquecida, mas cultivada e reescrita com novos valores.
Mas na rotina de cada lar não são só as crianças que saem ganhando. “Conviver com as crianças é algo que deixa nossa rotina mais viva, mais real”, afirma a assistente social. Trabalhar com os pequenos é como uma via de mão dupla, doa-se muito amor, mas também recebem muito dele em troca.
“Nossa recompensa maior é o: obrigada tio (a), você fez parte da minha história, eu te amo! Existe recompensa maior?!”.
(Larissa Lourenço, assistente social)