A infância é a fase da vida em que aprendemos mais intensamente sobre o mundo, descobrimos como lidar com outras pessoas, com nossos sentimentos, e definimos nossa moralidade. A primeira infância (0 a 6 anos) oferece a maior parte das janelas de oportunidade de aprendizado ao ser humano e esse desenvolvimento depende de estímulos, atenção e carinho. Em primeira instância e mais fundamentalmente, o progresso do âmbito social, intelectual e emocional necessita que a criança tenha suas necessidades básicas atendidas.
As crianças e adolescentes que se encontram em condição de vulnerabilidade social passam por diversas situações desfavoráveis, como exclusão social, abandono, abuso físico e psicológico, violência sexual, além de negligência acerca de sua saúde e educação. Desse modo, são forçadas a passar para a vida adulta sem terem experienciado a infância com alguns momentos e sabores particulares dessa etapa da vida.
Também podem experienciar falta de contato humano e afetivo na família, enfrentar falta de acesso à educação, saúde, lazer, alimentação e cultura. Em muitos casos são vítimas de negligência, abandono por parte dos responsáveis, dependência química dos responsáveis, não dispõem de recursos materiais mínimos para sobreviverem, são exploradas e expostas à violência, ao consumo de drogas e ao uso de armas.
Vulnerabilidade social de crianças brasileiras em números
De acordo com o levantamento das denúncias feitas por meio do Disque 100, ou Disque Direitos Humanos, em 2019 foram registradas 86,8 mil de violações de direitos de crianças ou adolescentes. Em relação à violência sexual são mais de 17 mil casos.
No país há uma média diária de notificação de 233 agressões, entre físicas (até mesmo torturas) e psicológicas contra crianças e adolescentes com idades de até 19 anos. Sabemos que a realidade é ainda pior, pois muitos sofrem em silêncio e não têm quem intervenha. Grande parte dessas situações infelizes ocorrem no ambiente doméstico ou têm como autores pessoas de confiança do círculo familiar e de convivência das vítimas.
Se formos levar em consideração o número de mortes violentas e intencionais de crianças e adolescentes, em 2019, 4.928 jovens entre 0 e 19 anos foram vítimas de atrocidades que lhes tiraram a vida, segundo a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Como as Organizações da Sociedade Civil atuam nessa causa
Com o intuito de modificar esse quadro tão negativo da vulnerabilidade social de crianças em nosso país, as Organizações da Sociedade Civil devem atuar de maneira amplificada. Desde o desenvolvimento educacional, passando pela partilha do respeito e da franqueza nas relações humanas.
São muitas as organizações que atuam de forma direta nessa causa, como OSCs voltadas para crianças que perderam ou correm o risco de perder o cuidado parental, que buscam combater a desigualdade e exclusão social por meio do esporte, arte e cultura. Algumas procuram construir ambientes de proteção, cuidado e empoderamento. Outras prestam atendimento gratuito e humanizado para a saúde e desenvolvimento educacional de crianças e jovens. Temos também organizações de acolhimento e proteção integral para crianças e adolescentes vítimas de abandono, negligência acerca de sua saúde e educação, violência e abusos.
Como a pandemia intensificou esse cenário
Com o Covid-19 a subnotificação dos casos de abuso aumentou. A partir de abril do ano passado, momento no qual um maior número de estados começou a decretar o isolamento social, ocorreu uma queda de 17,1% nas denúncias. Sem a supervisão da equipe escolar e presentes intensamente no ambiente doméstico, acredita-se que a vulnerabilidade social de crianças tenha se tornado ainda mais alarmante.
No ano de 2021, o presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Marco Gama, reforçou que as crianças atualmente não conseguem pedir socorro a um vizinho, à professora ou a um colega na escola.
A preocupação quanto ao isolamento é grande, pois, os números de violência infantil em 2018, antes da pandemia, mostram que em 83% dos casos os agressores foram o pai ou a mãe e que mais de 60% das agressões foram cometidas dentro das residências.
O impacto da pandemia nos serviços de acolhimento
Os serviços de acolhimento enfrentam diversas dificuldades como diminuição das doações, a suspensão das atividades de voluntariado que incluem contato com as crianças e os jovens, e o tenso, sensível e longo processo de isolamento no período de quarentena de novos acolhidos.
Em muitos casos, os voluntários preferem um contato próximo às crianças, e isso agora não é possível. Sem eles e a possibilidade da presença física, um papel importante e intenso das casas-lares é prestar auxílio para a adaptação à rotina educacional no ambiente online. É necessário procurar parcerias e entrar em contato com pessoas que tenham interesse em atuar no voluntariado para prestar assistência online nas disciplinas mais dispendiosas. Lembrando que temos uma grande variação de idade entre os acolhidos, o que significa que cada um deles passa por fases diferentes na educação, que vai desde a alfabetização até a finalização do ensino médio.
A convivência restrita entre as crianças, que não podem ir à escola nem participar de atividades extras, causa aumento nos conflitos, episódios de tédio, tristeza e medo. Além disso, as crianças têm alteração no sono e no apetite. Desse modo, o contexto do acolhimento é ainda mais delicado. A realidade da pandemia reflete também nos colaboradores e funcionários expostos, que precisam cuidar de suas saúdes e do bem-estar das crianças de forma ainda mais intensa.
A atuação de apoiadores e divulgadores da nossa causa é fundamental. Participe da nossa missão e seja um voluntário e/ou doe qualquer valor ou itens básicos para manter nossa instituição nesse momento tão delicado.
Sua ação irá ajudar imensamente as crianças e adolescentes de 0 a 18 anos incompletos, que precisam de um novo lar e de uma nova oportunidade para serem felizes!